Crescendo em Torno da Dor do Luto
“Encontre um lugar dentro de você onde haja alegria, e a alegria queimará a dor.” — Joseph Campbell
Essa afirmação é um pouco forte, mas acredito que muitos de nós vivemos uma realidade paralela. Não quero dizer que vivemos mentiras, mas penso que a nossa percepção de vida, felicidade e crescimento é altamente influenciada pelo nosso modelo de enxergar a realidade. É como se fossem quadros que, às vezes, carregam a mesma imagem, mas com focos diferentes. São mundos criados com base em nossos valores e experiências de vida.


Penso também que é o encontro dessas diferentes realidades que gera a beleza do mundo em que vivemos. Ao longo da vida, podemos nos deparar com visões de mundo que transformam completamente a nossa própria perspectiva. Nesse sentido, uma mulher enlutada — que não era acadêmica, nem nada do tipo — conseguiu criar um modelo de recuperação do luto que impactou o mundo inteiro.
pesquisadora Lois Tonkin escreveu, em 1996, um artigo intitulado "Growing around grief - another way of looking at grief and recovery" . Nele, ela conta uma linda história sobre uma participante de seus workshops: uma mãe que havia perdido seu filho há pouco tempo.
Em uma das atividades, essa mãe faz uma representação de como ela esperava que fosse sua experiência de recuperação do luto. Inicialmente, seu sofrimento era tão grande que ela sentia a dor da perda em cada parte do corpo, estivesse acordada ou dormindo. Ela imaginava que, com o passar do tempo, esse sofrimento diminuiria até se tornar uma parte pequena de sua vida.


Não foi isso o que aconteceu.
Após criar essas duas figuras, ela desenhou uma terceira, em que sua dor era exatamente do mesmo tamanho que no início. Entretanto, com o passar do tempo, sua vida cresceu em torno da perda e se tornou maior do que a dor.


Esse modelo, apesar de não ser adequado a todas as pessoas, capta uma característica delicada da perda pela qual muitos enlutados passam.
Se você já sentiu que o seu luto não diminuía, mas que, na verdade, você estava apenas aprendendo a conviver com ele — para que sua vida crescesse com ele e ao seu redor — essa pode ser exatamente a teoria que você estava procurando. Você vai a novos lugares, conhece novas pessoas, experimenta coisas novas. Talvez você não queira, mas a vida dá poucas escolhas. Aquele luto ainda está lá, com a vida se expandindo ao redor dele. Afinal, a vida continua.
E, nessa continuação, aprendemos a seguir em frente; aprendemos a criar novas memórias felizes sem deixar de honrar nosso passado. Nossa história nos esculpiu, e cabe a nós, conscientemente, finalizar essa escultura.
Diferentemente do que muitas pessoas pensam, essa dor não se torna um fardo, muito menos um sofrimento. Ela se transforma em uma força motriz que, naturalmente, tem seu próprio peso, mas, ao aprendermos a nos reequilibrar e a nos apoiar nesse legado, podemos criar um futuro — uma história cheia de significado.
Não esqueça que o sol dos nossos dias ainda não se pôs.
Por isso, sempre há esperança.

